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TUDO POR VOCÊ

NOTA 6,5

Equilibrando-se entre o drama
e a comédia, longa tem uma
bela história, mas demora um pouco
para seus objetivos serem revelados
Cinebiografias costumam chamar atenção devido ao apelo de serem baseada em fatos verídicos, mas se o homenageado não é muito famoso, o ostracismo é praticamente o destino certo da fita, ainda mais quando não há nada no material publicitário e nem mesmo no enredo que deixe claras as intenções da produção. Tudo por Você se encaixa nessa definição. Com um título desses e elenco encabeçado por Renée Zellweger, nada mais natural que o espectador julgar ser mais uma comédia romântica açucarada, mas quem se arrisca a assistir este filme pode ter uma surpresa, positiva ou negativa, depende do ponto de vista. Escrito por Charlie Peters, o roteiro começa de uma maneira estranha. Em 1953, um jovem de apenas 15 anos, muito bem apessoado e com roupas bem alinhadas, está em uma loja de automóveis pretendo adquirir um Cadillac e prometendo pagamento a vista em dinheiro. Os vendedores muito desconfiados logo começam a lhe fazer perguntas, assim o menino procura resumir os fatos que o levaram até aquele momento levemente constrangedor. Ele é George Devereaux (Logan Lerman), que em seus pensamentos posteriores conclui que deveria ter saído da concessionária assim que recebeu o primeiro chamado de atenção de um dos atendentes por tocar no carro, quem sabe assim ele não teria a memória de tantas frustrações. Em um flashback rápido ficamos conhecendo um pouco sobre sua família. Ele é filho de Dan (Kevin Bacon), um músico de razoável fama, mas que se sustenta com um único sucesso de sua autoria, a canção “My One and Only” que também é o título original do filme. Ele sempre deu tudo de bom e do melhor para a esposa, Anne (Zellweger), uma mulher deslumbrada e deslocada do mundo real. Talvez essa fosse mesmo a intenção do marido. Oferecendo um padrão de vida elevado ele enrolava a mulher para que ela não descobrisse suas traições, mas eis que um dia ele foi flagrado com outra e, pior ainda, na própria cama do casal. Anne desce do salto, discute e decide sair de casa, provavelmente já desconfiava da infidelidade do companheiro. Vai ao banco resgatar algum dinheiro e suas joias e parte para buscar os filhos na escola e colocar o pé na estrada com o tal carro que George estava comprando. Tudo isso é apresentado em cerca de dez minutos de filme, afinal o que está em discussão é o que Anne fará de sua vida agora que está separada.

Como o filme é narrado por George, existe ao longo de todo o filme uma incômoda sensação de não sabermos qual o real protagonista, o filho ou a mãe? Na realidade os dois, pois ambos têm suas vidas modificadas pelos fatos que ocorrem após a separação do casal Devereaux, aliás, situações que também atingem o filho mais velho de Anne, o adolescente Robbie (Mark Rendall) que sonha em ser um grande ator. Ele não é filho de Dan, é fruto de outro relacionamento da mãe, uma mulher que se acostumou a ser sustentada por homens. Respeitava seu parceiro, não traía, mas quando via que a relação não teria futuro logo tentava arranjar outro companheiro como o longa mostra. Partindo de Nova York, o primeiro ponto de parada de Anne e seus filhos é Boston, mas os meninos não botam fé na independência da mãe e acreditam que não vai demorar para ela decidir voltar para Dan, ou melhor, para a vida de dondoca que tinha mesmo que fosse preciso suportar as puladas de cerca do marido. George obviamente torce para que isso aconteça, pois idolatra seu pai. No entanto, surpreendentemente Anne mostra-se rígida quanto a sua fuga e não se deixa abalar pelas frustrações, tentando um recomeço em várias cidades. De Boston partem para Pittsburgh, depois para St. Louis, Albuquerque e finalmente Hollywood. Em cada ponto uma tentativa de conquistar um novo amor, inclusive alguns dos pretendentes já cruzaram o caminho desta mulher no passado, mas sempre algum obstáculo surge para não conseguir levar o relacionamento adiante. Apesar disso, a vida itinerante de Anne traz como pontos positivos a sua autodescoberta e o aprimoramento do relacionamento com seus filhos. Finalmente lhe cai a ficha de que é muito duro para uma mulher encontrar seu espaço na sociedade quando já está com a idade mais avançada, é separada e com rebentos adolescentes a tiracolo, aliás, sua insistência para conseguir um novo marido até a leva a ser confundida com uma prostituta. Saindo de sua redoma de vidro percebe que não sabia nem mesmo onde George e Robbie estudavam, quanto mais de suas aspirações profissionais. O primeiro é sério, estudioso e com aptidões para a escrita já que seu grande hobby era a leitura. Já o segundo, inclinado para as artes dramáticas, tem senso estético para moda e outras particularidades que no passado eram restritas ao universo feminino, além de alguns trejeitos e modo de falar que denunciam sua possível homossexualidade, algo que Anne não conseguia enxergar.

A batalha de uma mulher tentando sobreviver com os filhos após mandar as favas seu casamento de aparências. A busca incessante por um novo amor, mesmo que motivada também pela ambição financeira. As tentativas frustradas de mostrar que pode fazer algo bem feito deixando de lado o estereótipo de dama fútil. Drama, romance ou comédia, afinal de contas do que se trata esta produção? Pois é, este é um exemplo de filme que não mostra logo de cara quais seus objetivos e aponta para diversas possibilidades. No fundo é um road movie, aquele tipo de narrativa em que personagens passam muito tempo na estrada em busca de um objetivo concreto ou simplesmente para avaliarem melhor sobre suas vidas e descobrirem novos caminhos a seguir. As pessoas que as acompanham nas viagens ou que cruzam seus caminhos a cada nova parada são de suma importância para as novas decisões, pois apresentam suas interpretações externas ao conflito, assim as várias participações de pretendentes ao coração de Anne aparentemente são superficiais, mas no conjunto influenciam para a conclusão do filme, para o destino desta mulher. O diretor Richard Loncraine, de Firewall – Segurança em Risco, tinha um leque de opções para este seu projeto. Criticar a sociedade dos anos 50, ávida por novidades de bens de consumo, mas ainda tradicionalista quanto a moral e os bons costumes. Falar sobre a condição da mulher em tempos em que algumas lutavam por independência enquanto outras defendiam a submissão. Apresentar uma crônica sobre uma família disfuncional, mostrando que clãs do tipo não é exclusividade dos tempos modernos. O cineasta aborda tudo isso e mais um pouco escamoteado por uma narrativa que não levanta bandeiras sobre um tema em específico, mas que encontra dificuldades para dialogar com o espectador ao não se definir entre uma comédia ou um drama. Quando chegamos ao final é que decidimos que a segunda opção é a que resume melhor a produção, mas para fins comerciais o rótulo comédia romântica foi escolhido. Mas e a tal homenagem a alguém famoso citada na introdução do texto? Somente na conclusão ficamos sabendo que Tudo por Você fala sobre o passado de George Hamilton, que assina o filme como produtor executivo. Entre os anos 50 e 60 ele estrelou alguns filmes e foi rotulado como um dos galãs do período, mas nunca um astro reconhecido genuinamente por seu talento. A obra relembra, portanto, alguns episódios de sua juventude, com direito a muitas licenças poéticas, mas de fato sua mãe chamava Ann e relacionou-se com muitos homens e George foi fruto de seu segundo casamento. Hamilton pode não ter construído uma carreira sólida para justificar uma cinebiografia, mas o tempo que passou com a mãe e seu meio-irmão pulando de cidade em cidade sem dúvidas é uma bela história e com lições de vida, pena que Loncraine não soube injetar a dose de emoção necessária para contá-la.

Drama - 108 min - 2009 

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